domingo, 28 de julho de 2013

Da história da ciência - Miriam Limoeiro

O texto realiza uma abordagem científica acerca do método em um embasamento epistemológico, escrito por Miriam Limoeiro na década de 70, existe no texto uma aproximação com a teoria do conhecimento e o pensamento marxista, efetuando uma negociação entre a ciência e a filosofia. O texto expõe uma análise social do conhecimento, buscando investigar, analisar e criticar as diferentes metodologias e o modo como o conhecimento científico acontece na contemporaneidade.
Em um primeiro momento o texto aborda o método cartesiano, que é uma epistemologia a partir do conhecimento da natureza, onde um conjunto de regras seria responsável por garantir os resultados, ou seja, o conhecimento científico, uma técnica que levaria a padrões pré estabelecidos de pesquisa, limitando a obtenção do conhecimento ao método do pesquisador, sem a possibilidade da discussão para a criação de novos métodos ou novos critérios científicos, neste sentido a autora coloca uma critica a Descartes, com objetivo de demonstrar sua influência moderna nos métodos da contemporaneidade.
No período contemporâneo, o método cartesiano não consegue mais dar conta no âmbito das pesquisas científicas, pois o método estava se modificando e começando a ocorrer a análise da teoria a partir de um formato bem mais complexo, hoje há um rigor que impede o desenvolvimento de um trabalho com uma metodologia seguida tão severamente, em padrões pré-estabelecidos, tendendo sempre a questão dos discursos de validade. A partir dai o que se desenvolve é a experiência, como primordial no sentido da relação entre teoria e realidade., ou seja, uma prova.
No texto é possível conceber novos formatos de problematização do conhecimento, uma metodologia da pesquisa com proposta de avanço para a Ciência, através do desenvolvimento de um método técnico, racional, dotado de possibilidades que enxergue de modo reflexivo, como uma ferramenta científica, as limitações da pesquisa.  Sendo o método um conjunto de perguntas e respostas para a elaboração de um conhecimento, como desenvolver uma fundamentação teórica a partir disso? O conhecimento é uma relação entre o sujeito(pesquisador) e o objeto de sua preocupação teórica. Essa relação ocorre através da responsabilidade do pesquisador em compreender que suas formulações deveriam ser dotadas de explicações, motivações e com embasamento no contato direto como objeto de estudo.
A relação entre o pensamento e o sujeito, baseia-se em uma explicação concreta sendo essa parcialmente aceita pela sociedade. Não se constroem teorias sem interações sociais, pois são nessas que encontram-se as linguagens científicas, é importante acompanhar o discurso através da episteme e entender que individualmente não se constrói a ciência, não sendo possível sem a interação social obter um objeto de pesquisar sólido. Segundo o texto, a realidade, o real, a ciência da natureza, importam assim como para Descartes, mas não é o real que comando o processo de desenvolvimento  conhecimento da sua própria inteligencia. A realidade torna-se objeto de pesquisar apenas quando relacionada a algo.
A ciência é uma abstração a teoria, ela foge ao método, um dado científico apenas se constitui através do pensamento e do desenvolvimento do novo. Em um processo de teorização a pesquisa e o pesquisador lidam com os afetos de um modo que deve ser livre de dogmas, atendo-se apenas a episteme. Essa relação dialética entre observador e objeto, que geram um diálogo observador/objeto necessitam enfrentar uma ruptura para transcender o “objeto real”, dotado de distintas linguagens, apenas perceptivo, pautado no senso comum, atingindo com isto o “objeto científico”, que explica a realidade e possui linguagem e caráter científicos.
É importante compreender que a realidade não possui uma voz própria, a voz do real é a da racionalidade, é a do pensamento, um pensamento produz uma linguagem que gera um conhecimento científico ou uma linguagem ideológica, faz-se necessário então um empirismo, uma ferramenta científica de experimentação do mundo, gerando sim uma intervenção, ou seja, uma interferência do pesquisador sobre o objeto de estudo e sobre a teoria, mas é importante entender que há neste teórico um caráter de construtor da teoria, enquanto no empírico um carácter de verificador e validador da teoria enquanto prática.
Dentro da prática de pesquisar é importante compreender que nada surge “do nada”, existe uma descontinuidade, onde um projeto parte de uma outra pesquisa já desenvolvida anteriormente, experimentada e validade empiricamente por um outro pesquisador, porém é importante entender que as teorias apesar de se utilizarem umas das outras para a criação de novas teorias, se distinguem pois os métodos se diferem, isto é  não existe uma continuidade dentro das pesquisas teóricas. Cada grande vanço científico está marcado pela descontinuidade.
Para compreender melhor o pensamento desenvolvido no texto, existe um fluxograma que visa demonstrar que uma das características mais relevantes da ciência é o partir da descontinuidade, onde uma nova teoria acaba sempre por romper metodicamente a anterior, sendo a ciência uma incorporação do novo para a criação, mas com uma característica comum a odas as teorias científicas, o rompimento com o senso comum. A ciência deve buscar sempre servir a sociedade, e mesmo aquilo que um dia foi conhecimento avançado e arrojado, pode tornar-se vulgar e antiquado, mas jamais perderá sua característica de conhecimento. Ou seja, descontinua-se o método e o objeto mas não desconsidera-se jamais aquela teoria.
O fluxograma que pretende desenvolver melhor um esquema didático para a compreensão dos elementos teóricos, separando as etapas de desenvolvimento de um esquema teórico em duas, uma antes do romper com o senso comum e uma outra após. No ponto inicial da pesquisa encontra-se o senso comum, a experiência sensível, linguagem do senso comum, após o desenvolvimento teórico, dotado de método, técnica e um objeto real, atingi-se um ponto de não retorno, que seria um limite de avanço que levaria ao rompimento com este senso comum. Após este rompimento, tem-se experiência do método científico, pautada em ma crítica a um outro método científico que a antecede, gerando através da linguagem do método uma teoria nova de entendimento do real no espaço-tempo.
O problema que se sucede é o problema da neutralidade do pesquisador em não inserir conhecimentos ideológicos dentro da sua pesquisa científica pois a ciência e a constante contestação da realidade como é imposta, as pessoas que não fazem ciência acreditam na ciência como ela se constitui sem haver questionamentos, o cientista deve sempre romper com o conformismo de uma teoria, mesmo que esta seja dele próprio, buscando sempre esta ruptura com o senso comum exposta no fluxograma textual. Pois toda a teoria tem seu poder transformado com o tempo, isto está marcado pela descontinuidade das descobertas científicas que se tem conhecimento até a contemporaneidade.

Sendo assim, o método, que é o objeto de pesquisa do texto, não possui um carácter absoluto no entendimento da autora, os métodos se transformam, estão presos ao tempo em que se caracterizam, eles se modificam como as antigas teorias, os antigos conhecimentos, para os métodos não existem normatizações, não existem carácteres, não existem regras, eles se reinventam, como a própria ciência, livre de preconceitos, distanciando-se da mera sistemática cartesiana. A ciência se reinventa, ela se acumula, mas é sempre pautada na descontinuação e em suas criações e produções de conhecimento teórico.

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