Entender a cidadania no contexto educacional, com intuito de
identificar as dificuldades práticas da mesma, compreendendo o que a cidadania
ainda não é, pensando a cidadania em seus problemas de execução e a
responsabilidade da escola nas práticas cidadães. Além destes, existe o interesse em entender os limites da legislação no pensamento dos socialmente
excluídos, pois a lei geral não discrimina e o ideal democrático por vezes
entra em conflito com as necessidades das minorias. Neste contexto é importante
compreender ainda o papel da escola na formação da criança e do adolescente e
seu significado na manutenção de um estado democrático, tentando entender
quando devemos atribuir a noção de cidadania e quando queremos atribuir esta
mesma noção.
A democracia se deu primeiramente e historicamente no
contexto da Grécia Antiga, quando os gregos percebem pela primeira vez que
necessitam tomar posse e assumir de modo reflexivo suas leis, tirando este
poder das mãos dos deuses. Concebendo a ideia de que são responsáveis pela
prática do pensar sua cidade(Pólis) e
suas leis, desenvolvendo uma noção de poder reflexivo, tornando-se assim
criadores de sua própria sociedade. Os gregos foram os pioneiros na prática
política, sendo ainda os criadores da palavra e pioneiros ainda na prática da
democracia, pensando os valores ético-morais de sua sociedade, suas legislações
e seus procedimentos jurídicos, debatendo o que seriam praticas boas, ruins,
certas e erradas.
Assim, os gregos na constituição e uso pioneiro da
política, constituem nela uma prática social de pensamento e estruturação dos
interesses coletivos de uma Pólis. A
partir da política é possível conceber a ideia do que seria o cidadão, além de
uni-los na reflexão dos interesses comuns a toda a cidade, tornando-os iguais,
definindo suas práticas de cidadania. A existência da democracia implica
necessariamente a existência da política, a política precisa ser pensada para a
instituição da democracia, pois apenas quem pensa a política exerce a
cidadania. Dentro deste ideal democrático de prática da cidadania é importante entender como preparar e desenvolver os indivíduos para se inserir nesta
sociedade, como a escola deve ser pensada para transmitir ensinamentos que
insiram as crianças e os adolescentes cenário político, combatendo as
diferenças e intolerâncias, pensando uma sociedade mais igualitária. Então o
exercício da cidadania encontra-se na participação política total e efetiva do
cidadão.
A questão encontra-se também em compreender quais são
os reais compromissos de uma sociedade democrática. A cidadania é considerada
uma prática da coletividade, com fim na participação total e plena dos cidadãos
na deliberação total das atividades comuns a todos na cidade, desenvolvendo
valores, legislações e burocracias com igualdade de direitos e participação. A
cidadania é uma prática jurídica que institui os valores da democracia, sendo a
escola neste contexto apenas uma ferramenta de construção.
A escola publica seria o local para a preparação dos
indivíduos para exercer a cidadania, não sendo ela o local do exercício
pratico, mas sim do entendimento teórico, do pensar e do refletir a prática,
pois ela é democrática, universal e laica, constrói futuros
cidadãos, atuantes ou não dependendo da forma como o ensino é conduzido, da
família a qual este indivíduo pertence, entre outros fatores externos. A
definição do que é necessário para exercer cidadania deve ser a temática da
escola, fazer com que os alunos exerção análises críticas e reflexivas acerca
das práticas da cidadania, delimitando seus limites e suas limitações, sendo
este em parte o papel do professor. Não plenamente, na escola democrática o
pensamento social deve ser parte da construção e do desenvolvimento do cidadão
político e politizado, pois a política é aquilo que pertence a todos e não deve
ser partilhada, iniciando-se pela definição do seu próprio espaço público e
comum a todos os cidadãos.
A democracia gera uma ampla discussão acerca do que
deve ou não ser partilhado, ela não é em igualitária economicamente, ou seja,
não equilibra as concentrações de renda, mas ela busca entender e deliberar
sobre assuntos políticos comuns a todos os como a posse de terras, os meios de
produção, acesso à informação, saúde e cultura. Sendo assim, a democracia nada
mais é do que uma discussão aberta e continua sobre as delimitações do que é o
público e do que é o privado, discussão essa que só é comum as práticas
democráticas, não sendo constatada em outros modelos políticos. Então a
atividade política é uma prática que só a democracia constitui efetivamente.
Retornando ao contexto da questão democrática da
educação, temos por definição que educar é envolver os indivíduos em uma prática
de socialização, tornando-os extremamente capazes de refletir e analisar sua
sociedade e agir de modo a exercer sua cidadania. A escola pública tem por
objetivo a inserção de todos os indivíduos no contexto de sociedade, levando-os
ao desenvolvimento das capacidades acima descritas. A escola é então
primordialmente um instrumento de construção da democracia, pois prepara os
componentes da sociedade democrática ou seja, os indivíduos sociais, como
praticantes da cidadania. É preciso que os homens preservem a sociedade
democrática, enxergando seu valor, sendo capazes de defendê-la para que a mesma
não seja ameaçada. “ Se a polis são os
seus cidadãos, não é bastante fabricar leis e estatutos, por melhores que
sejam, é preciso formar homens capazes de habitar essas leis e de colocá-las em
prática...” (VALLE, Lilian – Educação Cidadania e Exclusão – página 35)
O individualismo não se opõe as práticas sociais, pois
todos os homens para firmarem suas crenças e valores sociais necessitam estar
inseridos em um contexto coletivo(social) para então, almejar racionalidade,
deliberações pessoais e autonomia existencial. O homem se constrói no contato
com o outro, aprendendo a dialogar e aceitar as diferenças, sendo esta parte da
responsabilidade designada a escola; levar o indivíduo a entender que ser
cidadão não é apenas conhecer as leis mas sim aprender convívio social, justiça
e igualdade. “Todo indivíduo é um
indivíduo social” (VALLE, Lilian – Educação Cidadania e Exclusão – página 36)
A escola deve ser então, capaz de contribuir para a
construção de uma democracia, formar sujeitos aptos a exercer a cidadania,
sendo irrelevante a raça, crença, classe social ou qualquer outra diferença,
pois independente de questões individuais primeiramente todos os alunos terão a
cidadania como prática comum. Isto foi compreendido após a Revolução Francesa,
que entendeu que inserir os jovens em um contexto social(escola) é garantir um
futuro melhor para a própria sociedade. As crianças não seriam mais os filhos
de alguém quando possuírem família, ou de ninguém quando solitários, tornando
todos igualmente filhos da pátria, atribuindo a criança e ao adolescente um
status político de inserção social, seriam estes as figuras do amanhã, dando
origem neste contexto a criação da escola pública.”A escola é pública, e universal, e gratuita, e laica, porque se considerou
que a construção de igualdade política dos futuros cidadãos não poderia ficar a
cargo da iniciativa privada, nem submetida as diferenças sociais, nem ao poder
aquisitivo ou à crença de cada família.” (VALLE, Lilian – Educação Cidadania
e Exclusão – página 39)
Como conclusão analisa-se que a escola é ou deveria
ser um ambiente de preparação do aluno para se desenvolver individualmente e
coletivamente por estar inserido em uma sociedade. A escola democrática deve
preparar o estudante, criança ou adolescente para ser o representante político
do amanhã para entender melhor suas leis, o que não acontece atualmente no
Brasil, pois as leis passaram a ser atribuição de poucos. A escola deve também
preparar os indivíduos para possuírem algo comum a todos os outros pertencentes
a sua sociedade política construindo com isso uma ferramenta de igualdade sendo
esta a cidadania.
A educação escolar prevê o desenvolvimento das
capacidades de diálogo a liberdade de expressão o pensamento crítico o convívio
com respeito as diferenças e o desenvolvimento da disciplina, todas estas
práticas na escola pública de hoje, que encontra-se em crise, deixam a desejar,
pois há um desconhecimento público do papel político da instituição escolar, o
professor é desencorajado, convencendo-se de que suas ações não tem valor nem
importância social, isso se reflete em uma educação de baixa qualidade, que
forma cidadãos não atuantes e incapazes de refletir sua sociedade, crer em
ideais, sendo apenas massa de manobra de uma minoria elitista que controla
sistematicamente uma democracia não para o povo, mas para as corporações. Esta
crise educacional precisa ser analisada e refletida de modo bem crítico, sendo
contornada antes que se coloque em cheque a existência de uma sociedade
democrática de fato, com uma cidadania efetiva coisa que no Brasil nunca ocorreu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário